A Colonização do Brasil
A chegada dos portugueses a terras brasileiras em 1500 colocou em confronto duas culturas notadamente diversas. A européia que tinha em sua base cultural as monarquias, as relações mercantis e o cristianismo. A indígena valorizava a vida comunitária, a relação com a natureza e a pajelança e o xamanismo. Logo vieram também os africanos
sob a condição de escravos. Formou-se nos trópicos uma sociedade
original. Para os europeus e seus descendentes, reproduziu-se no Brasil
seus valores e a cristandade. Para os ameríndios, a destruição quase
completa de sua cultura original e o extermínio de povos inteiros. Para
os africanos e afro-brasileiros, a escravidão, o racismo e a
discriminação.
Texto e Contexto
“Para que prestem a utilidade desejada, as colônias não podem ter o necessário para subsistir por si, sem dependência da metrópole.”
(Do marquês de Pombal, 1776, justificando a política mercantilista e colonial.)
Os interesses econômicos orientaram a colonização do Brasil. Os portugueses aplicaram sua política mercantilista
baseada em certas idéias econômicas. Na prática, o sucesso do
mercantilismo dependeu dos mecanismos reguladores das relações entre
colônia e metrópole. O mais importante desses mecanismos foi o monopólio
comercial – o exclusivo, como se dizia na época.Através do monopólio comercial,
as colônias eram mercados fechados à concorrência estrangeira. Só
podiam vender às suas metrópoles e só podiam comprar dela ou por seu
intermédio.
Desenvolveu-se
também a teoria do pacto colonial. Por esse pacto a metrópole tinha
posse legal e plena jurisdição sobre suas colônias. Essas passavam a ser
extensões da metrópole, constituindo com elas uma unidade políticas e
jurídica e adotando seus objetivos e interesses.
A expedição de Martin Afonso de Sousa, enviada em 1530, é vista como o início da colonização portuguesa no Brasil. Martin Afonso fundou a vila de são Vicente, em 1532, no litoral paulista.
Dom João III decidiu aplicar ao Brasil a solução já experimentada nas ilhas atlânticas: as capitanias hereditárias, ou donatarias.
Entre 1534 e 1536, o território brasileiro foi dividido em quatorze
faixas de terras, que se estenderiam do litoral para o interior. Estas
foram doadas a doze capitães-donatários – fidalgos, comerciantes e
funcionários pertencentes à burguesia e a pequena nobreza
–, com o compromisso de promoverem seu povoamento e exploração em troca
da concessão das grandes propriedades e de direitos e privilégios.
Texto e Contexto
Os forais dos donatários
“Compete mais ao capitão Criar vilas com seu termo [limite territorial], jurisdição, liberdade e insígnias, segundo o foro e os costumes do reino, onde julgar mais coveniente... Exercitar toda a jurisdição civil e criminal: superintendendo por si ou por seu ouvidor, na eleição de juízes e oficiais... No crime [processos criminais], o capitão e seu ouvidor têm jurisdição conjunta com a alçada até pena de morte, inclusive em escravos, gentios, peões cristãos e homens livres, em todo e qualquer caso, para absolver ou para condenar, sem apelação e agravo.”
(Foral entregue a Duarte Coelho, 1534. Documentos históricos brasileiros. Rio de Janeiro: MEC, 1976. p. 47.)
Outra prática era a concessão de grandes sesmarias
pelos donatários aos colonos povoadores e pelo próprio governo, dando
início à tradição latifundiária brasileira, de concentração da
propriedade agrária, de muita terra para poucos donos.
O donatário exercia o Poder Executivo
– o governo propriamente dito – e a jurisdição civil e criminal sobre
índios, colonos livres e escravos, podendo até condenar pessoas à pena
de morte (Poder Judiciário). Como indivíduo, ele era o proprietário de
extensos lotes de terras e detinha o monopólio da produção de açúcar.
Utilizava a capitania hereditária como seu domínio particular, embora
houvesse a arrecadação de impostos por funcionários subordinados
diretamente ao rei.
As
capitanias, com exceção das de Pernambuco e São Vicente, apresentaram
resultados medíocres: umas estagnaram, outras foram abandonadas e
algumas nem foram assumidas por seus donos. Escassos recursos materiais e humanos, pouco empenho pessoal e pouca habilidade em lidar com os nativos foram algumas das causas do fracasso.
Em 1548, dom João III criou o governo-geral do Estado do Brasil,
sendo Tomé de Souza o primeiro governador. A criação de um
governo-geral visava a centralização política, administrativa e jurídica
da colônia, dispondo de maior autoridade do que a dos donatários. As
intenções do estabelecimento de um governo-geral eram: acompanhar,
avaliar e auxiliar o desempenho das capitanias; estimular a instalação
de engenhos de açúcar; promover o povoamento e a fundação de vilas;
controlar as relações com os
indígenas, combatendo os hostis e apoiando sua catequese; defender a
terra contra estrangeiros, construindo fortes e armando os colonos
proprietários. Para sede do governo, o rei indicou a baía de Todos os
Santos, onde foi fundada, em 1549, a cidade de São Salvador.
As bases da colonização
A política mercantilista no Brasil privilegiou o cultivo de gêneros agrícolas de
origem nativa ou trazidos de fora. As opções iniciais concentraram-se
na cana-de-açúcar. Em menor escala também o fumo e o algodão, enquanto o
extrativismo florestal – pau-brasil e as chamadas “drogas do sertão” –
continuavam a ser largamente explorados.
Para o cultivo da cana-de-açúcar os portugueses criaram um sistema integrado baseado na grande propriedade voltada para a exportação e no trabalho escravo. Esse tipo de sistema era semelhante à plantation da colonização inglesa no sul dos atuais Estado Unidos.
Plantation
– Grande propriedade agrária especializada na monocultura tropical
destinada à exportação, geralmente ligada a produtos como
cana-de-açúcar, fumo e algodão, cultivados com mão-de-obra escrava.
Ao lado da grande propriedade, existiram em pequena escala outras formas de organização da produção baseadas na pequena propriedade e no trabalho livre e voltadas para o mercado interno. Mas foi a grande propriedade escravista e monocultora que definiu o caráter geral da colonização do Brasil.
Ao lado da grande propriedade, existiram em pequena escala outras formas de organização da produção baseadas na pequena propriedade e no trabalho livre e voltadas para o mercado interno. Mas foi a grande propriedade escravista e monocultora que definiu o caráter geral da colonização do Brasil.

Escravos negros trabalhando na moenda. Gravura de Jean-Batist Debret, 1835.

Trabalho na produção de açúcar. Gravura do século XVII. Collection Roger-Viollet.
O engenho, onde se fabricava o açúcar, era composto pela moenda, a casa das caldeiras e a casa de purgar. Na moenda, a cana era esmagada, o caldo era levado para a casa das caldeiras, onde era engrossado, o melaço daí decorrente era levado para a casa de purgar para secar e alcançar o “ponto do açúcar”. O açúcar era enviado a Portugal, de lá para a Holanda, onde passava pelo processo de refinamento para a comercialização e consumo.
Para implantar e desenvolver a atividade açucareira no Brasil, Portugal contava também com a sólida participação de banqueiros e mercadores holandeses, financiando a instalação de engenhos, aquisição de escravos africanos, o transporte do açúcar e seu refino e distribuição na Europa.
Embora tenha dado lucro,
essa estrutura produtiva apresentou desde o começo um caráter
extremamente destrutivo. No nordeste e em outras regiões, a
cana-de-açúcar era cultivada de modo extensivo, ocupando enormes
extensões de terras. Nas regiões onde era plantada, nenhuma outra
lavoura era admitida. Tratava-se de uma cultura exclusivista. Esse tipo
de exploração – a monocultura em grandes propriedades – levou à
destruição crescente da Mata Atlântica e ao empobrecimento e esgotamento
do solo.
No Brasil colonia, a Mata
Atlântica fez parte da inspiração utópica para o renascimento do mito do
paraíso terrestre. Os relatos antigos falam de uma floresta densa
aparentemente intocada, apesar de habitada por vários povos indígenas.
Logo em seguida ao descobrimento, praticamente toda a vegetação atlântica foi destruída
devido à exploração intensiva e desordenada da floresta. O pau-brasil
foi o principal alvo de extração e exportação e hoje está quase extinto,
ligando o país à destruição ecológica. Outras madeiras de valor também
foram exauridas: sucupira, canela, jacarandá, jenipaparana, peroba e
urucurana.
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